Project Description
sobre
Detém-nos a atenção o portal manuelino, reconhecidamente uma afirmação da importância do lugar por parte do rei D. Manuel I, que segundo contam as estórias por aqui se avistava muitas vezes, ou não fosse este um lugar de passagem já há séculos tanto para a nobreza, como para comerciantes, ou peregrinos.
Quem chega vindo do campo goleganense depara-se com um edifício religioso de rara beleza, que no seu portal ao final do dia acolhe o mais bonito pôr-do-sol da lezíria ribatejana. Ao longo dos séculos foi conhecendo “obras de melhoria” que retiraram “velhos elementos” para dar lugar a “novos”. Chegou-nos uma obra de magnificência ímpar, pelas mãos de Diogo Boitaca, “mestre das obras do reino” e dos seus artesãos: a combinação exigente do gótico, subtilmente presente desde a entrada e manifestamente no seu interior, com os cinco tramos de arcos ogivais e entradas de luz estrategicamente pensadas. Subtil não é o seu pórtico, com reconhecidos elementos marítimos e vegetalistas, a cruz de Cristo, as colunas ao jeito de cabos marítimos, as fitas onduladas, os cogulhos, dragões, esferas, emblema real e um nicho com o orago ao centro. Um dos mais emblemáticos portais manuelinos do país. A dedicação com que foi edificada denota-se pela inscrição contida na base das ombreiras do portal, onde segura por anjos se lê a homenagem “MEMÓRIA DE QUEM” “A MI ME FABRICO”. São tantos os detalhes da entrada que mal podemos esperar pelo interior. Permita-se antes de entrar de lhe conhecer os recantos exteriores e apreciar as portas laterais, também elas manuelinas.
Somos esmagados pela frieza silenciosa do templo, pela magistralidade dos seus arcos que nos lembram da pequenez humana perante a dimensão do divino. E enquanto os pormenores da azulejaria têm memórias hispano-árabes nos altares laterais, os painéis da capela-mor são identificativos daquilo que de melhor se fez em Portugal: nas paredes figuram padrões avulsos e painéis figurativos com os Quatro Evangelistas, um “Lava Pés” e a “Última Ceia”. Na testeira é a “Estigmatização de Santa Rita”, originária da Igreja do Convento da Graça de Santarém, que nos retém o olhar e nos eleva (física e espiritualmente) à abóbada polinervada estrelada.