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Bolos de Noiva

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Farinha de trigo num alguidar de barro. Retira-se uma porção para um prato. Há-de servir quando o preceito o entenda. Aquece-se num fogão para quatro quilos de farinha, apenas um decilitro de azeite. Chega. Já aquecido esfrega-se com ele a farinha que se encontra no alguidar. Mistura-se, ao gosto da confeiteira, uma pitada de canela em pó e um colher, das de café, de bicarbonato. Juntam-se dois ovos inteiros e volta a esfregar-se. No centro deste volume, abre-se um buraco, em cone invertido, e deita-se-lhe fermento inglês dissolvido em água morna. Noutra água com sal dera-se, anteriormente uma fervura a um pau de canela, à casca do limão e a meio litro de leite. Amassa-se com o ritual de mãos embevecidas e logo que a farinha esteja ligada, mas flexível, elástica, misturam-se raspas de quatro limões, cerca de duzentas gramas de margarina e dois quilogramas de açúcar. Vai-se então buscar a farinha que se retirara para um prato (lembram-se?) polvilhando-se com ela todo o conjunto. Bate-se com cuidado até ficar enxuto. Aqui, no pendor místico da alma, a doceira é que sabe quando o deixará repousar as doze horas da praxe. Ao fim delas, é tempo de se moldar a massa, em muitas parcelas, onde se esculpem uns bolos secos em forma de oito. Preparados, untam-se com ovo batido, como pintura rupestre, levando-se a forno quente cerca de trinta minutos. E entram nas festas, porque são eles mesmo festa. Serão, com o arroz doce e os coscorões, a sobremesa da boda que, em geral, se compõe de sopa de carna com grão e, como pratos de substâncias, galinha corada com arroz e ensopado de borrego. O sol, pendurado no céu. Lambe a campina com labaredas de ressicar viventes. O Suão, por sua vez, tapa a respiração às gentes, aos gados e às plantas. A natureza mudou para respeitar a regra das estações.

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