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A essência de uma comunidade resulta em primeiro lugar, da interação entre o elemento humano e o meio natural que lhe é circundante, moldando-se deste modo a especificidade cultural e económica de um determinado local.
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Freguesia de Azinhaga
Freguesia de Azinhaga
Embora genérica, esta premissa assume uma expressão particularmente visível num Concelho como a Golegã. As suas tradições produtivas, de subsistência, bem como de prosperidade, radicam no secular aproveitamento das oportunidades oferecidas por uma paisagem onde a lezíria se destaca enquanto elemento de primordial grandeza. De facto, foi na orla das planícies do antigo Reguengo de Toxe (Oliveira, 2006), por onde deslizam o Tejo que se “espreguiça pela terra dentro, saúda a vila onde se ergue o mais belo templo manuelino da região (Sequeira, 1953) e o Almonda, que a Golegã surgiu e se desenvolveu, ao contrário de tantas outras localidades que, construídas em orografias elevadas, privilegiaram a defesa em vez da exploração dos recursos agrícolas, pecuários e piscícolas.
O processo de criação do polo urbano foi, contudo mais tardio, afirmando-se pela consolidação da reconquista cristã do atual território português. Para a estruturação do aglomerado populacional desempenharam papel importante o surgimento de diversas quintas agrícolas e coudelarias que souberam valorizar tanto os recursos naturais disponíveis na região, como a própria localização da Golegã no mapa nacional.
De facto, as planícies goleganenses, no coração do nosso retângulo continental, cedo fizeram parte dos itinerários que ligavam não só o norte ao sul como, igualmente, o litoral à fronteira. Desde outros tempos, que as ligações de Lisboa, tanto a Coimbra como a Espanha, tinham roteiro por esta zona, sendo ainda por aqui que, há mais de dois séculos, o exército napoleónico passaria a caminho da capital. Junot e mais tarde Massena e as respetivas tropas ficaram alojadas na Quinta do Salvador (1808), situada no centro da Golegã, deixando um rasto de destruição a caminho de Lisboa.
Freguesia da Golegã
Freguesia do Pombalinho
Freguesia do Pombalinho
Hoje, o ex-líbris da Golegã, o Cavalo, é bem o reflexo da origem desta vila, lembrando os longos séculos em que circulação de pessoas e de bens dependia em grande parte, deste. Zona de passagem frequente para uns, tornou-se também de fixação para outros, que começaram a explorar tanto as potencialidades oferecidas pela fértil lezíria – na agricultura e na criação de gado –, como as oportunidades de comércio proporcionadas pela sua privilegiada situação na antiga Estrada Real Lisboa-Porto.
Deste modo, o próprio meio geofísico onde a Golegã se integra representa parte substantiva da originalidade e da identidade cultural da Vila e do Concelho. Combinam-se, por um lado, os costumes rurais e agrícolas, cuja tradição foi construída por gerações sucessivas sobre uma mesma área geográfica e por outro lado, o cosmopolitismo dos viajantes e daqueles que à vila se deslocavam propositadamente para adquirir exemplares que melhorassem a quantidade e a qualidade da cavalaria nacional, elemento que durante séculos foi considerado como vital, também no assegurar da independência do país.